terça-feira, 29 de abril de 2008

Entrevista com o Padre Sílvio Couto

Entrevista ao padre Sílvio Couto (Pároco de Santiago de Sesimbra)

Qual é a origem da Festa das Chagas?

A Festa das Chagas tem algo de particular e algo de genérico. A tradição de que a imagem terá aparecido na praia perpassa por outros lugares e por outras imagens também, como é o caso do Senhor de Matosinhos cuja tradição se assemelha um bocadinho à nossa, em que alguém andava na praia e encontra qualquer coisa. Depois há toda a história em que se lança a imagem ao lume e ela salta. Toda essa tradição existe noutros lugares e Sesimbra, nesse ponto, não é excepção. Há ainda toda uma questão à volta do porquê do surgimento das imagens e a história da imagem que dá à costa dentro de caixas e aí penso que é um bocado de tradição. Há quem a considere exagerada e há quem a considere plausível até porque, segundo reza a história, por volta do ano 1530 (mais ou menos) os católicos ingleses quiseram evitar que as imagens fossem profanadas, devido à implantação do Anglicanismo em Inglaterra, deitando-as ao mar. Essa tradição percorre vários lugares e acontece sempre ser um Cristo crucificado. No caso do Senhor Jesus Chagas, e alguns adereços e acrescentos que lhe foram colocando, aí creio que teremos que estudar um pouco melhor. Refiro-me mais concretamente à cabeleira e ao sendal que são, na minha opinião, dois exageros e que se usam apenas para tornar a imagem mais bonita. São dois adereços que poderiam não ser usados e que a imagem não perderia nada com isso.

Encontraram a imagem e, no início, ela foi levada para a Capela da Misericórdia?

Sim, originalmente foi assim que aconteceu. Digamos que a imagem do Senhor Jesus da Chagas andou, durante uns tempos, numa disputa entre a Capela do Espírito Santo e a Capela da Misericórdia e isso também está relacionado com o contexto histórico da altura. Não é por acaso que as capelas, principalmente as que estavam ligadas às Irmandades e ao Espírito Santo, eram populares. Em Sesimbra tínhamos a Capela do Espírito Santo dos Mareantes, que era mais popular, e depois existia a instituição oficial régia que, na altura, era a Capela da Misericórdia. Naquela época o Espírito Santo quase que desapareceu como expressão de fé e caridade popular, tendo sido suplantada pela Misericórdia. Essa mudança institucional originou uma certa disputa pela imagem, que foi resolvida com o tempo e que nesta altura já não existe.

No entanto, ao longo do ano, a imagem continua na Capela da Misericórdia?

Sim, mas está apenas à guarda da Capela, apenas isso.

Porquê o dia 4 de Maio? Foi nesse dia que descobriram a imagem?

Existe uma coisa muito engraçada e que, infelizmente, não tem tradição em Sesimbra que é a questão das Maias e das janelas e portas floridas no 1º de Maio. No fundo, grande parte festa das Chagas com toda a sua linguagem de flores acaba por ser uma tentativa de cristianização dessa festa que existia, mais ou menos pagã, e que ainda hoje tem algumas marcas no nosso país. Aqui estamos a ver se conseguimos implantar essa vivência cristã das janelas floridas que, em tempos, por volta dos séculos XVI, XVII, tinha como tradição fazer um canto popular em que havia uma espécie de culto pagão à Deusa da Fertilidade e que, inclusivamente, era feito com raparigas. A celebração do Senhor Jesus das Chagas no dia 4 de Maio, segundo alguns sociólogos das religiões, é uma cristianização de uma festa pagã que existia e que a Igreja habilidosamente cristianizou por que havia o risco das pessoas se afastarem. Claro que a nível popular não podemos dizer isto às pessoas mas é a verdade. Existem várias marcas pagãs na Festa das Chagas.

Como é que se sabe que o Senhor Jesus das Chagas é o padroeiro dos pescadores? É por ser uma vila piscatória?

Eu penso que sim, mas a questão é mais funda do que simplesmente ser padroeiro de um grupo sócio-profissional ou de uma vivência marítima. De facto, o Senhor Jesus das Chagas não é o padroeiro dos pescadores mas sim de Sesimbra. Penso que o ser padroeiro dos pescadores acaba por ser uma tentativa de fazê-lo assumir uma maior proximidade aos homens do mar e, é inegável que o tem, mas daí a reduzi-lo só a eles, acho um bocado abusivo. No fundo é o padroeiro de Sesimbra, é o padroeiro da vivência marítima da vila. Agora pergunto, o que é que em Sesimbra não é marítimo? É tudo. Desde as pessoas, quer as que trabalham na pesca ou que depois tratam do peixe, aos restaurantes. Não há praticamente ninguém que não tenha na família alguém pescador ou ligado ao mar. Na prática, Sesimbra tem aquilo a que se chama a fé salgada com sal ou a fé com sabor a sal. É uma fé marítima e que envolve quem vive à beira-mar e que tem uma mentalidade própria e uma maneira e forma próprias de ver as coisas. Sesimbra tem a sua realidade. O mais engraçado é que, até ao 25 de Abril, ninguém era pescador, ou seja, a profissão era designada de marítimo. Era o nome que se dava a quem vivia cá e trabalhava no mar. Acho que houve, talvez, um certo exagero em chamar ao Senhor Jesus das Chagas o padroeiro dos pescadores porque ele é o padroeiro de todas as pessoas que vivem e sentem esta religiosidade marítima. Se algum dia deixar de haver pescadores o Senhor das Chagas vai continuar a ter a sua expressão de fé.

Acha que a Festa das Chagas é o ponto mais importante da tradição em Sesimbra? É uma das festas mais importantes do concelho?

Aí tenho que dizer que sim e não ao mesmo tempo. No sentido da mentalidade das pessoas é, sem dúvida nenhuma, a festa mais importante. Mas se formos a ver pela ajuda e patrocínio das autoridades e, mais concretamente da câmara, já sou obrigado a dizer que não o é. Aí o mais importante é o Carnaval, esse é que é patrocinado pela autarquia. Não há terra nenhuma que faça uma festa do seu padroeiro, com um feriado e tudo, com cinco mil euros. É possível que as pessoas, teórica ou romanticamente, chamem a festa do padroeiro como a sua festa, até por causa do feriado, mas na prática não o vivem como os concelhos vizinhos o fazem. A Festa do S. Pedro, no Seixal e no Montijo, e até mesmo o Senhor da Boa Viagem, na Moita, têm muito mais dinheiro e apoio dado pelas autarquias do que nós.

Devia então haver mais investimento por parte da câmara?

Sem dúvida nenhuma e também no sentido de se tentar saber o que se pretende fazer. Até porque, muitas das vezes, e desculpe-me a expressão, a festa só acontece por carolice de uma comissão que trata de tudo.

E essa comissão existe há quanto tempo?

A comissão sempre existiu.

Sim, mas agora é uma Irmandade.

A Irmandade é, digamos, o pano de fundo e de onde emerge uma comissão que é o órgão executivo da Irmandade e que tem um prazo, segundo os estatutos, de três anos. Existe um Juiz que tem a responsabilidade de assumir e dinamizar a festa e que, todos os anos, vai rodando por entre os elementos da comissão de festas. Não é mais que uma espécie de organização das coisas.
Qualquer pessoa pode fazer parte ou inscrever-se na Irmandade?
Claro, apenas tem que ter mais de 18 anos e menos de 70. Depois, para poder participar na comissão de festas tem que ser irmão há pelo menos um ano, é o que está nos estatutos. Neste momento temos cerca de 250 irmãos e irmãs.

Ao longo dos anos têm vindo a acontecer algumas evoluções na festa e na procissão?

Eu acho que sim, ou melhor, a única coisa que não evoluiu ou que não mudou foi o percurso. É preciso que se diga que o percurso da procissão é o mesmo desde o início, é o original. Segundo alguns entendidos esse era o percurso da procissão de Nossa Senhora do Carmo, que era a festa anterior à Festa das Chagas e padroeira do Clube Sesimbrense. O percurso mantém-se o mesmo desde essa altura, mas há outros ingredientes que foram sendo adicionados como, por exemplo, o livro da novena. Há cerca de três anos fez-se um pequeno livro com as novenas para que as pessoas as possam fazer sem estar cá, mas também para que se perceba que há toda uma dinâmica de celebração que foi escrita. Depois, a partir de 2000, há aspectos variáveis que têm vindo a procurar realçar facetas das actividades marítimas. Este ano vamos ter a valorização do peixe na sua generalidade.

E quanto à organização da procissão, como é que tudo se procede?

A procissão é o tal percurso. No texto dos estatutos está escrito e descrito todo o seu ritmo, todos os lugares por onde passa e pára, todos os intervenientes e a sua ordem. Está tudo escrito nos estatutos da Irmandade. A procissão é, no fundo, uma forma de percorrer as ruas mais antigas da vila. Depois há aquele momento mais simbólico, a meio do percurso, em que se fala da palavra de Deus no Largo da Marinha. A procissão é uma peregrinação que parte da Igreja e volta à Igreja, com a particularidade de ter muita gente a participar. Há ainda aspectos muito engraçados como o facto de se colocar alecrim no chão da Rua do Forno e da Rua da Paz. É uma espécie de ruralidade e que lhe dá um certo ambiente campesino.

E isso acontece porquê?

Penso que é mais por ser um ritual das pessoas, de se sentir o cheiro do alecrim que tem uma certa simbologia do ar da serra. E essa deve ser a razão mais profunda. É bom que não se esqueça que o alecrim é perfumado e essa é uma forma de perfumar o ambiente da procissão. Quanto aos intervenientes e a sua ordem, para quem assiste de fora é até bastante interessante. Há quem fique admirado por ver uma grande procissão, que só tem uma imagem, e centenas, senão mesmo milhares, de pessoas todas vestidas com uma capa da mesma cor.

Essa capa tem algum significado especial?

A capa vermelha tem sempre a ver com o sangue, tem a ver com o martírio e com o testemunho. Neste momento já existem três capas em que, no corte são iguais, mas na decoração são diferentes. Algumas capas antigas têm o símbolo do Santíssimo Sacramento e que seriam de uma anterior Confraria ou Irmandade que existia nesta Igreja Matriz. Ao longo dos anos foram aparecendo outras apenas com a imagem do Senhor Jesus das Chagas e, mais recentemente, aquelas, com um símbolo bordado, e que são usadas apenas pelos irmãos. Toda a linguagem do vermelho tem muito a ver com o testemunho, aliás o encarnado é utilizado na Casa da Liturgia nas festas dos mártires ou então quando ligados com Cristo nos momentos da sua paixão. Como a Liturgia que se celebra na Festa das Chagas é a Liturgia da Santa Cruz, os parâmetros são também dessa cor.

Quantas paragens fazem ao longo da procissão?

A procissão tem nove paragens. A imagem pára nove vezes fazendo uma espécie de inclinação ou bênção para nove pontos diferentes. Existem quatro paragens que se fazem viradas para o mar e em que a imagem se volta para o poente. Uma no fundo da Rua D. Dinis, outra mais prolongada no Largo da Marinha, depois pára no outro lado da Fortaleza e quando entra na Rua da Paz a imagem é novamente voltada para o mar. Quando chega ao topo da Rua da Paz é virada para nascente e, até ao final do percurso, são várias as vezes que se volta para Norte, mais concretamente em frente à Câmara Municipal, na avenida da Liberdade e quando chega à Igreja Matriz em que abençoa as pessoas que vão na procissão. As nove paragens têm tipicamente a ver com os nove dias da novena, mas o grande problema de hoje é que elas são feitas apenas de gestos. Creio que no passado seriam paragens com gesto e palavras, porque não tem sentido nenhum fazer uma espécie de vénia sem saber a quê. Isso é uma coisa que ainda não está bem feita, mas a ideia é que quando a imagem pára se faça uma breve oração.

Sabe qual é o peso da imagem?

Não tenho a certeza mas penso que a imagem e o andor devem pesar cerca de 800 quilos.

E quantas pessoas a costumam carregar?

O número é variável. Já chegaram a ser cerca de 12 pessoas e só não é mais porque não há espaço.

Acha que a devoção dos sesimbrenses para com a festa e a imagem tem aumentado?

Eu acho que sim e, pelo que tenho presenciado, há algumas pessoas que, hoje em dia, já percebem o porquê das coisas. Claro que ainda é preciso mais e não é só com as novenas que vamos conseguir chegar mais longe. Até porque há pessoas que vêm à novena num dia mas que depois não vêm no outro. É preciso que as pessoas entendam o significado das novenas, que não é mais que uma contemplação da imagem nas diversas facetas. São nove facetas diferentes e cada dia é diferente do anterior. Há toda uma envolvência em que se contempla a imagem de cima para baixo. Isto é, começamos por contemplar a cruz, que é o suporte, depois a cabeça de Cristo com a coroa de espinhos, o rosto, a boca, depois o lado, de seguida o braço direito e braço esquerdo, depois os joelhos e finalmente os pés. São nove dias em que cada dia tem um significado diferente. Por isso é que é importante as pessoas assistirem a todas as novenas.
Acho que há mais devoção, embora tenha pena que as pessoas não se preocupem em perceber um pouco mais.

domingo, 27 de abril de 2008

Gastronomia

Como é de esperar, a gastronomia em Sesimbra tem uma forte relação com o mar. Os peixes, os moluscos ou os mariscos sempre frescos são o ponto forte da gastronomia sesimbrense. Ainda assim desenvolveram-se outras delícias gastronómicas de relevo. Salientam-se nos pratos típicos com pescado, a Caldeirada à Sesimbra (ver receita), Sopa de Peixe (normalmente realizada com o molho da caldeirada), o Peixe Seco cozido (carapau, sapata, raia, cão de monte, …) e os peixes ou mariscos da costa simplesmente cozidos em água e sal ou grelhados no carvão. Na doçaria salientam-se as broas de Alfarim (ver receita) e os Zimbros.

Caldeirada de Peixe

Ingredientes: 1,5 kg de peixe (Safio, Tamboril e Canejas), 8 Batatas, 1 dl de Azeite, 1 Pimentão, 5 Tomates Maduros, 700 gr de Cebola, 1 Ramo de Salsa, Sal, Pimenta, Piripiri.

Modo de Confecção: Limpam-se os peixes e cortam-se às postas. Colocam-se a cebola às rodelas, metade do pimentão cortado às tiras, dois tomates sem peles nem sementes, azeite, batatas cortadas às rodelas finas e por fim, o peixe. Tempera-se tudo com sal, pimenta e piripiri, mais uma camada de cebola cortada às rodelas, o resto do pimentão às tiras, os tomates e a salsa. Tapa-se e leva-se ao lume.

Broas de Alfarim

Ingredientes: 1000 gr de farinha de trigo, 1000 gr de farinha de milho, 1250 gr de açúcar amarelo, 250 gr de mel, 125 gr de erva-doce, 50 gr de canela, Raspa de 1 limão, q.b. de raspa de noz-moscada, 100 gr de margarina, 4 ovos.

Modo de Confecção: Escalda-se a farinha de milho com a água a ferver. Juntam-se-lhe os outros ingredientes e amassa-se bem, até ligar. Com as mãos, formam-se bolas que se vão colocando em tabuleiros untados com margarina e polvilhados com farinha, que se levam a cozer em forno bem quente, durante 10 a 15 minutos, mas não mais para não ficarem duras. Pode-se colocar uma amêndoa em cada broa.




In "Livro de Receitas - MEL Um sabor com história", 1999
Câmara Municipal de Sesimbra/Gabinete de Apoio ao Empresário pg. 12/13

Crenças e Tradições Populares

O concelho de Sesimbra outrora rico em tradições populares tem vindo a perder, com o acelerado ritmo de desenvolvimento da região, muitas das suas tradições. Em 1982, a Câmara Municipal iniciou um trabalho de levantamento de jogos tradicionais, tendo em vista a sua recuperação. Além disso, há todo um conjunto de tradições ainda possíveis de serem registadas e ai também a Autarquia elaborou um projecto para o estudo de algumas dessas tradições, tais como as cegadas, o Carnaval, o “Enterro do Bacalhau” e a “Queima do Judas”.
As comemorações de qualquer festa religiosa ou eventos civis são sempre uma forma de tentar reconstruir o passado. As romarias são essencialmente festas religiosas de invocação de algum santo, de devoção mariana ou ainda de patronos de uma povoação ou ligados a um santuário. Estas festas compreendem as cerimónias religiosas, que incluem procissões e outros rituais e a festa profana, o essencial é serem vividas em comum. Estes encontros pressupõem trocas a vários níveis: culturais, comerciais, lúdicas e religiosas.
Em Sesimbra são inúmeras as festas, romarias e feiras que acontecem pelo concelho ao longo de todo o ano e que a Câmara Municipal desenvolve em colaboração com instituições de carácter diverso. As componentes sagradas e profanas destas festas são fonte de grande atracção turística levando todos os anos milhares de visitantes a viver estes eventos em conjunto com a população do concelho.
Devido à importância e multiplicidade de festas e tradições religiosas existentes no concelho optámos por destacar aquela, que no nosso entender, mais influência tem tido junto dos sesimbrenses: A Festa em Honra do Senhor Jesus das Chagas – Padroeiro dos Pescadores. Todos os anos a 4 de Maio, feriado municipal, a população de Sesimbra presta homenagem ao seu protector.

Festa em Honra do Senhor Jesus das Chagas





Segundo reza a lenda, no século XVI, terá aparecido na praia, sobre um rochedo, a “Pedra Alta”, uma imagem de Cristo crucificado, que os pescadores devotamente levaram em procissão até à Igreja da Misericórdia, e a tomaram como seu santo padroeiro nomeando-o de Senhor Jesus das chagas.
As celebrações em honra do padroeiro dos pescadores de Sesimbra têm lugar nos últimos dias de Abril e na primeira semana de Maio, sendo os dias 3, 4 e 5 deste mês os mais importantes. É a festa principal da vila que se desdobra por novenas, sermões, pagamento de promessas e procissão, uma das maiores do sul do país, cujo percurso é semelhante ao que se fazia no século XVIII.
O início das festas dá-se com a realização de uma pequena procissão de transferência da imagem da capela da Santa Casa da Misericórdia para a Igreja Matriz. Esta procissão realiza-se ainda durante o mês de Abril e durante os dias em que aí permanece realiza-se a Novena.

O dia 4 de Maio é o da procissão em que a imagem do Senhor Jesus das Chagas percorre as ruas de Sesimbra. O pendão em que se inscreve a sigla S.P.Q.R. inicia a procissão, seguida da fanfarra dos Bombeiros de Sesimbra da Cruz da Irmandade e do duplo cordão das capas vermelhas. Segue-se a imagem do Senhor Jesus das Chagas e por fim seguem a banda e os devotos que cumprem promessas. A procissão dura aproximadamente duas horas, durante a qual há nove paragens obrigatórias e em que é feito um pedido de bênção. Ao longo do percurso quatro ou cinco dessas paragens são viradas para o mar e as restantes para a terra. Algumas das ruas onde passa a procissão são totalmente atapetadas de alecrim da Serra da Arrábida.
Originalmente a imagem partia da capela onde estava todo o ano. No final do século XVIII a imagem passou a ser trasladada para a Igreja Matriz dez dias antes da véspera do dia da procissão. Este facto deveu-se ao crescimento da população e ao aumento do número de participantes, que só a Igreja Matriz podia acolher.
No que respeita a organização, podemos dividi-la por três instituições:
- A igreja tem a seu cargo as cerimónias religiosas e organiza em complementaridade com a Comissão de Festas a procissão, a novena e as missas que se celebram nos dias festivos;
- A Câmara Municipal organiza o arraial, as actividades musicais, desportivas e o aluguer do espaço;
- A Comissão de Festas, composta por um Juiz e os chamados festeiros, em regra pescadores, coordena toda a organização da festa. A comissão muda anualmente, sendo costume o Juiz propor o seu sucessor. A proclamação do novo juiz é feita no decorrer das cerimónias sendo, na sua tomada de posse tomado um compromisso solene e público de levar a bom termo a realização das festas no ano seguinte.

A Festas das Chagas envolve, de forma mais ou menos assumida, uma força de religiosidade de todo um povo, que, embora mais ou menos descrente noutros momentos da vida, vai tentando compensar ao menos uma vez por ano a sua obrigação para com o grande Protector colectivo e a título individual.



As imagens de Cristo crucificado de grandes dimensões eram um imperativo em qualquer templo cristão, nos finais da Idade Média, pois, segundo diziam os pregadores, os fiéis, mal entrassem numa Igreja, deviam contemplar no Mistério da Paixão de Cristo as verdades essenciais da sua fé. Os acontecimentos da Reforma provocaram nos países protestantes a destruição ou mutilação de muitas imagens, ou a sua remoção dos altares. Em contrapartida, nos países católicos reforçou-se o culto das Imagens, sendo algumas delas encontradas nas praias ou no mar e reputadas como sendo provenientes dos países dos hereges. Terá sido o que aconteceu com a notável imagem do Senhor Jesus das Chagas, encontrada no século XVI por pescadores da Vila de Sesimbra e desde então objecto de grande devoção pelos sesimbrenses. Trata-se de uma Imagem tardo-gótica, em madeira de grandes dimensões, representando Cristo morto na Cruz, que a devoção popular cobre com cabelos humanos e com um sendal de tecido ricamente bordado. O resplendor da imagem é barroco, o mesmo podendo dizer-se da monumental cruz a que se encontra afixado. Quando sai em procissões, o andor é ricamente ornamentado com flores que significam mais do que uma vaidade de promessa, elas envolvem uma linguagem de ressurreição e que envolve o Crucificado em tempo pascal.
A imagem do Senhor Jesus das Chagas é classificada como sendo artisticamente simples, sociologicamente simbólica e cristãmente representativa. É uma imagem diferente e poderosa! Ao longo dos anos a devoção ao Crucificado tem estado sempre presente nesta tradição sesimbrense embora tenham havido algumas mudanças, principalmente na preparação para a procissão. Como tal, fomos falar com o Sílvio Couto, pároco da Paróquia de Santiago e um dos principais intervenientes na festa. Foi ele que nos explicou as mudanças que têm vindo a acontecer, embora “mais em pormenor e não nas questões de fundo”. Segundo o próprio “a expressão mantém-se, a forma de viver é que pode transformar-se, de acordo com cada tempo”.

Associativismo Juvenil

· NECA – Núcleo de Espeleologia da Costa Azul
· Escola de Samba Saltaricos do Castelo
· Grupo Recreativo Escola de Samba Bota no Rego
· Grupo Recreativo Escola de Samba Trepa no Coqueiro
· Associação Recreativa Bigodes de Rato
· Grupo Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Zimbra
· Grupo Recreativo Escola de Samba Dá que Falar
· Tripa Associação – Grupo de Olodum Tripa Cagueira
· Grupo de Jovens da Paróquia do Castelo
· Juvesanti – Grupo de Jovens da Paróquia de Santiago
· Agrupamento 350 C.N.E. (Corredoura)
· Agrupamento 718 C.N.E. (Quinta do Conde)
· Agrupamento 325 C.N.E. (Sesimbra)
· ANIME – Projecto de Animação e Formação
· MGBOOS
· Surf Clube de Sesimbra
· Sound Snack
· Tiny Fish

Associativismo Humanitário

· Associação dos Bombeiros Voluntários de Sesimbra
O devastador incêndio que def1agrou na tarde de 11 de Junho de 1902 na Fábrica Nacional de Conservas, foi extinto pela luta dedicada de vários homens que durante horas combateram a força das chamas. Este trágico acontecimento foi o “responsável” pela criação do primeiro corpo de Bombeiros do concelho que tinha por lema “Vida Por Vida”. A primeira reunião de trabalho onde foram traçadas algumas linhas de orientação decorreu a 15 de Julho de 1902. Os trabalhos sucederam-se e, em Setembro do mesmo ano, arrancou a construção do Quartel dos Bombeiros. Entretanto, a comissão organizadora continuava os seus trabalhos, nomeadamente, na elaboração dos estatutos. A data oficial da fundação dos Bombeiros Voluntários de Sesimbra é 12 de Agosto de 1903. Para além do potencial humano, os bombeiros possuem equipamento diversificado, desde ambulâncias, veículo de comando táctico, ligeiros de combate a incêndios, autotanques e viaturas para resgate de vítimas em grutas, falésias e poços.

· 3ª Secção dos Bombeiros Voluntários de Sesimbra – Quinta do Conde

Associativismo Desportivo

· Grupo Desportivo de Sesimbra
· Grupo Desportivo União da Azóia
· Associação Cultural e Desportiva da Cotovia
· Associação de Desenvolvimento da Quinta do Conde
· Associação de Cultura e Recreio União Trabalhadora Zambujalense
· Associação de Ténis de Sesimbra
· Clube de Tiro de Sesimbra
· Clube Escola de Ténis de Sesimbra
· Clube Naval de Sesimbra
· Ginásio Clube Conde
· Grupo Desportivo de Alfarim
· Grupo Desportivo de Sesimbra
· Grupo Desportivo União da Azóia
· Grupo Desportivo e Cultural do Casal do Sapo
· Grupo Desportivo e Cultural do Conde 2
· Moto Clube de Sesimbra
· Núcleo Cicloturista de Sesimbra
· Tridacna
· ZUCA – Clube de Pesca Desportiva de Sesimbra
· União Desportiva e recreativa da Quinta do Conde
· Clube Naval de Sesimbra

Associativismo Empresarial

· Associação dos Comerciantes e Industriais do Concelho de Sesimbra
· Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal
· Associação de Armadores de Pesca do Centro e Sul
· Associação dos Apicultores da Península de Setúbal

Associativismo Cultural e Recreativo

· Sociedade de Recreio Sesimbrense
Conhecida como “Refugo”, esta colectividade foi fundada a 18 de Fevereiro de 1906, na “Rua do Forno”, no mesmo local onde existiu o antigo forno da Ordem de Santiago. A alcunha tem por base a história da fundação da Sociedade Recreio Sesimbrense, que nasceu de uma dissidência na Sociedade Impressão Musical. O nome o ’Refugo” foi atribuído com a finalidade de desacreditar os seus fundadores, mas acabou por ter o efeito contrário. Esta discriminação incentivou os fundadores da associação a prosseguirem o seu trabalho ainda com mais entusiasmo e dedicação. Um dos objectivos iniciais do “Refugo” foi criar uma filarmónica que rivalizasse com as duas já existentes. Surgiu, então, o grupo musical “Sol-e-dó” (instrumentos de corda e de sopro) que, algum tempo depois, constituiu uma orquestra que animava festas e bailes. Entre as iniciativas que promoveram, destaca-se a criação de uma escola do ensino primário para os filhos dos sócios e a sua contribuição para o estabelecimento de uma cooperativa de consumo. No ciclo anual de festas, os momentos mais importantes eram o Carnaval e o Aniversário. Nesta casa viveram-se momentos marcantes da cultura sesimbrense. Uma das festas mais assinaladas foi a da inauguração da luz eléctrica a 18 de Fevereiro de 1938.



· Sociedade Musical Sesimbrense
Em 1878 a determinação de um amador de música, de nome Cerveira, escrivão da Fazenda Pública, tornou possível a formação de um grupo musical, que 36 anos depois daria origem à Sociedade Musical Sesimbrense. Entre 1878 e 1914 o grupo passou por algumas adversidades, com saídas e substituições de músicos que originaram novos agrupamentos. A 19 de Fevereiro de 1913, Augusto Vidal, antigo músico de um desses grupos, sugeriu e impulsionou a criação de um agrupamento musical independente que, um ano mais tarde, daria origem à actual Sociedade Musical Sesimbrense, filarmónica composta por 24 elementos. As actuações da filarmónica mereceram ao longo dos anos inúmeras distinções, destacando-se o primeiro lugar no Concurso de Bandas Civis do Distrito de Setúbal, em 1945. Hoje a Sociedade Musical Sesimbrense é uma instituição de Utilidade Pública e conta com 1200 associados, escola de dança e de música, e aulas de karaté. Em 2005 nasceu a Orquesta Orff, através de um protocolo com a Câmara Municipal e o Agrupamento Vertical de Escolas de Sesimbra – Castelo Poente.


· Clube Sesimbrense
A mais antiga colectividade do Concelho de Sesimbra nasceu em 1853. O fundador do Clube Sesimbrense, inicialmente baptizado de Sociedade Philarmónica, mais tarde, de Grémio, foi José António Pereira. A história aponta como a sede mais antiga a “Casa do Guarda-Mor”, nome pelo qual era designada a autoridade sanitária. A sociedade desenvolveu-se de uma forma extraordinária, tanto em número de sócios como em prestígio. As actividades culturais do Grémio marcaram várias gerações e, corria o ano de 1872 quando um grupo de sócios tomou a iniciativa de transformar o Clube numa verdadeira comunidade musical. Foram elaborados e aprovados novos estatutos e a denominação mudou para Grémio Philarmónico Sesimbrense. A actividade principal era a música mas também se realizavam palestras, conferências, concertos, teatro e os famosos bailes, ponto de encontro de amigos. Em 1878, como resultado de uma emissão de acções nominais de mil réis subscritas pelos sócios, e a título gratuito, foi adquirida a actual sede do Grémio. Com 153 anos de vida e superando dificuldades adversas, a associação continua a dar provas de vida. As parcerias que desenvolveu com outros grupos têm vindo a conferir-lhe novas dinâmicas.

· ANUFISE – Associação te Numismática e Filatélica de Sesimbra
· Associação de Socorros Mútuos Marítima e Terrestre da Vila de Sesimbra
· Ecosd’arte – Associação Cultural Liga dos Amigos da Lagoa de Albufeira
· Liga dos Amigos da Quinta do Conde
· Liga dos Amigos de Sesimbra Liga dos Combatentes (Núcleo de Sesimbra)
· Rotary Club de Sesimbra
· Grupo Coral de Sesimbra
· Associação de Socorros Mútuos Marítima e Terrestre da Vila de Sesimbra

Associações de Solidariedade

· Santa Casa da Misericórdia de Sesimbra
Com cerca de cinco séculos de história, a Santa Casa da Misericórdia de Sesimbra tem um importante acervo histórico e cultural e socialmente continua a trabalhar no apoio aos mais carenciados. Alguns vestígios da estrutura primitiva arquitectónica da Santa Casa apontam como data de fundação o início do século XVI, em 1555 foi lavrada uma escritura pelo provedor João Serrão, cavaleiro fidalgo da casa real e mareante. Nesse documento eram anexados à Misericórdia, a Albergaria e o Hospital do Espírito Santo, no Castelo. A Misericórdia adoptou como símbolo a imagem da Virgem com o manto aberto, numa atitude protectora que abrangia a nobreza, o clero e também todos os necessitados, representados por crianças, pobres, doentes e presos. Actualmente tem as seguintes valências: lar de idosos, centro de dia, serviço de apoio domiciliário (com cuidados médicos continuados) e actividades de tempos livres para crianças dos 5 aos 12 anos, Com 101 funcionários, presta serviço a cerca de 250 idosos e crianças.

· ABAS – Associação de Beneficência, Amizade e Solidariedade
· Casa do Povo de Sesimbra
· CASCUZ - Centro de Apoio Sócio Cultura União Trabalhadora Zambujalense
· Centro Comunitário da Quinta do Conde
· Centro Paroquial de Bem - Estar Social do Castelo
· Cercizimbra - Cooperativa de Educação pua a Reabilitação de Crianças Inadaptadas de Sesimbra
· Externato Santa Joana
· Raio de Luz

Monumentos

Monumento Nacional

Castelo de Sesimbra (Decreto de 16-06-1910)

Imóveis de Interesse Público
Pelourinho de Sesimbra (Decreto n.º 23122 de 11-10-1933)
Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel (Decreto n.º 37728 de 05-01- 1950)
Capela do Espírito Santo dos Mareantes (Decreto-Lei n.º 129/77 de 29-09)
Fortaleza de Santiago (Decreto n.º 129/77 de 29-09)
Forte de S. Teodósio (Decreto n.º 95/78 de 12-09)
Estação Arqueológica da Lapa do Fumo (Decreto n.º 28/82 de 26-02)
Estação Arqueológica da Roça do Casal do Meio (Decreto n.º 29/84 de 25-06)

Monumentos Naturais
Gruta do Zambujal (Decreto-Lei n.º 149/79 de 21-05)
Jazida de Icnofósseis da Pedra da Mua (Decreto n.º 20/97 de 07-05)
Jazida de Icnofósseis dos Lagosteiros (decreto n.º 20/97 de 07-05)
Jazida de Icnofósseis da Pedreira do Avelino (decreto n.º 20/97 de 07-05)

Áreas Especiais de Protecção
Parque Natural da Arrábida (Decreto-Lei n.º 622/76 de 28-07)
Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica (Decreto-Lei n.º 168/84 de 22-05)
Área de Reserva Ecológica da Lagoa de Albufeira (Decreto-Lei n.º 230/87 de 11-06)

Património Natural

· Gruta da Utopia
Complexo geológico desenvolvido durante o Jurássico (180-160 milhões de anos a.C.) que comporta diversas formações litoquímicas como estalactites, bandeiras e excêntricas, tendo também sido identificadas novas espécies de artrópodes cavernícolas. A gruta desenvolve-se num sentido vertical, ao longo de 120 metros, organizada por diferentes salas. Numa delas encontra-se um depósito de areia consolidada, a partir do qual se desenvolvem complexos calcíticos de formas e cores variadas.

· Gruta do Frade

Complexo geológico desenvolvido durante o Jurássico (180-160 milhões de anos a. C.), que comporta sequências sedimentares carbonatadas, margosas e detríticas, tendo sido influenciado pelo fenómeno de inversão tectónica que afectou a Serra da Arrábida A gruta tem 340 metros de comprimento linear e 40 metros de largura, enquadrados numa disposição horizontal sobre a qual se dispõe um sistema de galerias condutas coincidentes com uma zona freática.

· Gruta do Zambujal
Comporta um extenso complexo geológico de galerias e passagens, emergindo várias formações litoquímicas como estalactites e bandeiras de formas raras, como as asas-de-borboleta ou as argolas. Acolhe também uma importante colónia de morcegos. A entrada encontra-se obstruída por grandes blocos Soltos, consequência da laboração da antiga pedreira. Tem uma extensão de 108,50 metros e uma altura máxima de 33 metros, desenvolvendo-se ao longo de um corredor principal. Foi classificada como Monumento Natural pelo Decreto-Lei n.º 149/79 de 21 de Maio.

· Jazida de Icnofósseis da Pedra da Mua
Esta jazida, formada no Jurássico (150-140 milhões de anos a.C.), está associada à lenda de Nossa Senhora do Cabo Espichel, correspondendo a um conjunto de várias lajes calcárias que acolhem diversos trilhos de pegadas de dinossáurios saurópodes. Apresentando sequências sedimentares carbonatadas, margosas e detríticas, desde o Triássico até ao Cretácico (entre os 250 e 130 milhões de anos a.C.). A sua origem associa-se ao fenómeno de inversão tectónica que motivou a emergência da Arrábida. Foi classificada como Monumento Natural pelo Decreto-Lei n.º 20/97 de 7 de Maio.

· Jazida de Icnofósseis da Pedreira do Avelino
Localizada no Zambujal, contém vários trilhos de pegadas pertencentes a diferentes espécies de dinossáurios, sobretudo quadrúpedes, datadas do Jurássico (entre os 140-130 milhões de anos a. C.), época de um ecossistema lunar. A jazida comporta, em sobreposição ao maciço calcário, uma laje com 10 metros de largura por 15 metros de comprimento e cerca de 60 centímetros de espessura, onde se encontram registados os negativos dos vários trilhos de pegadas. Foi classificada como Monumento Natural pelo Decreto-Lei n.º 20/97 de 7 de Maio.

· Jazida de Icnofósseis dos Lagosteiros
Está localizada no Cabo Espichel e foi formada no Cretácico (130-120 milhões de anos a.C.), época de terrenos planos, alagadiços e pantanosos, que depois se transformaram em rocha calcária, acolhendo e preservando os trilhos de pegadas de dinossáurios. A jazida apresenta dois trilhas de animais bípedes, um carnívoro e outro herbívoro, dispostos em diferentes orientações, numa camada de calcário castanho amarelado associado a estratos de rochas areníticas e eu areias consolidadas do Cretácico, Foi classificado corno Monumento Natural pelo Decreto-Lei n.º 20/97 de 7 de Maio.

Património Etnológico

· Arte da xávega e da chincha
Trata-se de uma arte de pesca com origem islâmica, constituída por uma grande rede lançada ao mar a partir de pequenas embarcações e depois arrastada para o areal, por homens, no caso de Sesimbra, e por homens e animais (actualmente substituídos por tractores), no caso do Meco. Realiza-se ao amanhecer ou ao entardecer durante o período de Verão e destina-se sobretudo ao sustento dos pescadores. No Meco é designada de Arte Xávega, enquanto que em Sesimbra é conhecida por Chincha.




· Forno de cal
Foi construído como uma estrutura de cariz industrial, tal como os vários fornos explorados em diversos locais do concelho, ao longo do século XX, devido à riqueza geológica local. Este forno, de forma piramidal, acumulava no seu interior a pedra que após combustão seria transformada em cal. Nas proximidades existiam espaços de apoio para armazenar lenha e cal. Em alguns casos s havia linhas-férreas para transporte.

· Moagem de Sampaio
Edificada em inícios do século XX, esteve associada à moagem de cereais e venda de farinhas, chegando numa fase final de produção a proceder à torrefacção de café, até que na década de 1980, a redução do sistema produtivo conduziu ao seu declínio. Compõem-se o complexo de vários edifícios, tendo o principal dois pisos e planta rectangular com três salas, a de maquinaria, a dos engenhos e a de armazenamento, venda e escritório, confinando este com os restantes, a oficina, o poço e o bebedouro.

· Moinho da Azóia
Edificado em finais do século XIX, foi o moinho mais ocidental de uma rede de moinhos eólicos que existiam em vários montes virados a Sul. Laborou até final do século XX, tendo sido recentemente recuperado e apetrechado para voltar à actividade. É construído em pedra e cal, com planta circular de 7 metros de diâmetro, 5,50 metros de altura e paredes de 1,60 metros de espessura. Albergava o engenho de moagem, ligado no piso inferior ao depósito e no piso superior às velas.

Património Edificado


· Capela do Espírito Santo dos Mareantes
Edificada no século XV como sede da Confraria do Espírito Santo dos Mareantes de Sesimbra, possuía uma capela e um hospital, arruinados com o terramoto de 1755. O hospital foi encerrado e permaneceu a Capela, até meados do século XX. De planta rectangular, e com fachada de estilo barroco, o edifício organizava-se no seu interior por dois pisos: a capela, no superior, e o antigo hospital, no inferior, surgindo neste último grafitos parietais de embarcações datadas do século XVII-XVIII. Foi classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 129/77 de 29 de Setembro, e em 2000, a Câmara Municipal de Sesimbra, em parceria com a Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais iniciou a sua recuperação. A intervenção ficou concluída em Dezembro de 2004, altura em que abriu ao público corno núcleo do Museu Municipal de Sesimbra. O seu acervo inclui uma importante colecção de Arte Sacra, da qual se destaca a Nossa Senhora da Misericórdia, pintura da autoria de Gregório Lopes, datada do século XVI.




· Castelo de Sesimbra
Apresenta planta irregular, ocupando o topo da encosta. O lado nascente é composto pela alcáçova com a torre de menagem e os torreões, comportando o restante perímetro a cerca vilã, protegida nas portas por torreões e no seu extremo poente por uma torre. No século X foi reforçado pelo emirato omíeda e definitivamente reconquistado antes de 1199 por colonos francos. Até ao século XVI acolheu a vila de Sesimbra, entrando depois em ruína, só travada pelo restauro realizado entre 1936 e 1941. Foi classificado como Monumento Nacional pelo decreto de 16 de Junho de 1910 e Zona de Protecção pela portaria do Ministério das Obras Públicas e Comunicações de 9 de Outubro de 1945 pela portaria Ministério da Educação Nacional de 23 de Setembro de 1960.

· Fortaleza de Santiago

Foi edificada em 1648 como a mais importante fortificação da baía de Sesimbra. No século XVIII acolheu o governo militar da região e a residência de Verão dos infantes reais. Sem função militar, em 1879 foi cedida à Guarda Fiscal e em 1886 à Alfândega. A fortificação apresenta planta poligonal, adossando-se aos vértices do corpo central dois baluartes triangulares a Norte e dois trapezoidais a Sul. Este corpo alberga a casa do governador e as dependências da guarnição, a cisterna, o paiol e a Capela. Foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 129/77 de 29 Setembro.





· Forte de S. Teodósio
Foi edificado entre 1648 e 1652 para complemento de defesa da baía de Sesimbra. Em 1755, o terramoto danificou-o, tendo sido recuperado e reutilizado no início do século XIX. Após as lutas liberais foi abandonado e em 1895 passou a acolher um farol. De planta poligonal irregular, apresenta dois baluartes quadrangulares virados a Sul, que protegiam o complexo habitacional da guarnição e do paiol, uma torre de planta circular na praça de armas, que protegia a cisterna e um farol na bateria alta. Foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 95/78 de 12 de Setembro.

· Pelourinho
Este símbolo do municipalismo português terá sido edificado na actual vila de Sesimbra no século XVI, sendo destruído em inícios do século XX. Em 1988, o município promoveu a edificação de uma réplica no local do original. A estrutura de pedra calcária emerge a partir de um pódium de três degraus quadrados, com base redonda a que se sucede um longo e esguio fuste circular, terminando o seu topo num capitel quadrangular encimado por um esporão cúbico. Foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 23.122 de 11 de Outubro de 1933.





· Santuário de Nossa Senhora do Cabo a Espichel
A partir do culto de Nossa Senhora do Cabo e da quatrocentista Ermida da Memória, no século XVIII por ordem de D. Pedro II e de D. José, é edificado um santuário que vai perdurar ao culto até à transição do século XIX-XX, quando entra em declínio. O santuário congrega a Igreja edificada entre 1701-1707 em estilo chão, duas alas de hospedarias construídas após 1715 e ampliadas entre 1745-1760, a casa da água datada de 1770 e abastecida por um aqueduto e a casa da ópera de finais de oitocentos. Foi c1assificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 37.728 de 5 de Janeiro de 1950 e Zona Especial de Protecção pela portaria de 29 de Novembro de 1963.


· Igreja Matriz de Santiago

É uma igreja quinhentista, de transição entre o estilo manuelino e o renascimento. Há 473 anos, no ano de 1533 (finais), começou a sua construção. O crescer da igreja acompanha também o próprio crescimento da Vila de Sesimbra. A obra terminaria em 1564. Durante a obra foram feitos serviços religiosos, para evitar a ida dos habitantes da vila à igreja de Nossa Senhora do Castelo, a única que à época existia. Mas ficava longe e o caminho era muito íngreme. A construção e embelezamento foi paga em grande parte com donativos de navegantes e capitães de embarcações, que no fim das suas viagens, ofereciam parte da sua fortuna à igreja. Esta igreja serviu também como local de refúgio da população quando esta era atacada por piratas. Em 1755, com o grande terramoto de Lisboa, a igreja perde parte da sua torre dos sinos e dos arcos que suportavam o telhado. É da Igreja de Santiago que, todos os anos, parte a procissão do padroeiro da vila de Sesimbra, O Senhor Jesus das Chagas.

Património Arqueológico

Depois de examinada a Carta Arqueológica do concelho de Sesimbra verificámos que foram detectados até 1973:
· 43 Jazidas Paleolíticas (não referem quaisquer produções artísticas)
· 20 Jazidas Neolíticas As mais antigas manifestações de Arte Pré-histórica
· 12 Jazidas Calcolíticas
· 5 Jazidas da Idade do Bronze
· 4 Jazidas da Idade do Ferro
Durante o trabalho de campo verificámos que, segundo a Câmara Municipal de Sesimbra, o Património Arqueológico a destacar é o seguinte:

· Jazida dos Pinheirinhos
Espaço de povoamento ocupado inicialmente durante o Paleolítico (entre os 100 e os 10 mil anos a.C.). Mais tarde, durante o Neolítico (VI-IV milénios a C.), foi o recinto de aldeamento estabelecido pela comunidade que utilizou a Lapa do Fumo. Trata-se de uma extensa jazida superficial, localizada na vertente Norte da falésia da Serra dos Pinheirinhos, entre os 202 e os 226 metros de altitude. Está a cerca de 700 metros povoado e relativamente perto da Lapa do Fumo.

· Lapa do Bugio
Gruta natural localizada na vertente Sudoeste da Arrábida, utilizada como necrópole desde o Neolítico (IV milénio a.C., até ao Calcolítíco, III rnilénio a.C.) por uma comunidade eminentemente agrícola. A cavidade comporta uma sala de entrada com planta triangular, apresentando 9,80 metros de largura, 8,80 metros de comprimento, 4,40 metros de altura, compartimentada em espaço sepulcral e câmara de passagem, ambos artificiais.

· Lapa do Fumo

Gruta natural localizada na vertente Sudoeste da Arrábida, utilizada como necrópole da comunidade sedeada nas suas imediações desde o Neolítico, IV milénio a.C., até à ocupação islâmica no século XII, com função de vigilância costeira. A cavidade comporta uma galeria fóssil calcária com 70 metros de comprimento repartida por várias salas, tendo a maior 12 metros de altura e sete metros. De largura. A ocupação humana localiza-se na primeira grande sala de entrada. Foi classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 28/82 de 26 de Fevereiro

· Mar de Ancão
Esta jazida subaquática, localizada a sudeste do Cabo Espichel, comportava vários cepos de âncora de origem romana balizados entre os séculos II a.C. e IV d.C., num local de difícil travessia e que teria sido um provável ancoradouro para as rotas marítimas. Encontra-se a cerca de 25 metros de profundidade, junto da pedra da Arcanzil, entre a baía da Baleeira e o esporão ocidental do Cabo Espichel.

· Roça do Casal do Meio
Sepulcro edificado no século X a.C., estava associado a uma importante área de povoamento limítrofe, albergando uma elite dirigente que ostentava poder económico e político, decorrente de contactos com comunidades de origem mediterrânica. Apresentava cobertura de planta circular com 11,50 metros de diâmetro, delimitada na base por ortóstatos e no topo por falsa cúpula. Acomodava uma câmara interior de 3,30 metros de diâmetro acessível por um corredor de 15 metros de comprimento. Foi classificado de Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 29/84 de 25 de Junho.

Património Artístico

· Coroação da Virgem
Pintura a óleo sobre tela pintada entre 1615-1619 sob o signo da escola portuguesa. E atribuída a Amaro do Vale, que a terá elaborado para uma igreja de Lisboa. Porém, em 1878-1879 é trazida para a igreja de Nossa Senhora da Consolação do Castelo. Demonstra influências italianas, centrando-se o painel na imagem da Virgem envolvida pelas três figuras da santíssima trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sobre um plano inferior de delicados anjos.

· Painéis azulejares da igreja da Nossa Senhora da Consolação do Castelo
Na última fase das obras de embelezamento da Igreja de Nossa Senhora da Consolação do Castelo, realizadas em 1721, terá por obra das oficinas lisboetas dos mestres PMP, Teotónio dos Santos e Bartolomeu Antunes, sido elaborado este conjunto azulejar. A intervenção incluiu a realização de vários trabalhos de talha, e sobretudo de painéis de azulejos azuis e brancos que representam várias temáticas religiosas, desde imagens de apóstolos e evangelistas a cenas sobre a vida de Cristo e de Santiago.

· Nossa Senhora com o menino
Escultura de alabastro, provavelmente de produção francesa, associada às oficinas da Île de France, séculos XIV ou XV, e inspirada nos alabastros ingleses de Nottingham. Fazia parte do primitivo templo dedicado a Santa Maria, localizado no Castelo de Sesimbra. A imagem da virgem enverga uma túnica com manto e véu, de onde emanam cabelos largos e ondeantes. Maria segura o menino com o braço esquerdo, enquanto este guarda na mão esquerda um globo.

· Nossa Senhora da Misericórdia
Elaborado na primeira metade do século XVI e atribuído ao pintor Gregório Lopes, este quadro assume-se como um importante marco da arte nacional e representa um período de apogeu que também marcava o concelho. A composição apresenta urna policromia rica, surgindo Nossa Senhora da Misericórdia ao centro sobre uma coluna assente nas virtudes eucarísticas, albergando sob o seu manto os vários sectores da sociedade quinhentista, espiritual e laica.

· Santo António livra o pai da forca
Esta obra está na Igreja de Santiago, em Sesimbra. Trata-se de uma pintura em tela sobre altar de talha dourada, realizada em 1690, durante o arranjo do altar. Foi atribuída a Bento Coelho da Silveira e indicia já os valores do barroco. A cena representa um dos milagres do Santo, quando este livra o pai da forca depois de ressuscitar o morto injustamente acusado. A cena emerge do conjunto arquitectónico de fundo, o lhe que confere alguma privacidade.

· São Sebastião
Escultura datada do século XV com influência gótica, encontrava-se exposta num pequena capela devocional deste santo, protector contra as pestes e patrono das profissões castrenses, abandonadas após o século XVIII. É uma imagem com anatomia delicada e farta cabeleira a envolver o rosto de adolescente. Tem carnação rosada e pequena boca fechada, apresentando no tronco e pernas, dez orifícios que acolhiam setas de prata.

Património, Cultura e Turismo

O concelho de Sesimbra preserva um agregado de monumentos e de valores artísticos que se recomenda pelo interesse daqueles que subsistem, alguns dos quais de alta qualidade e que estão dispersos pelas suas freguesias. Além de uma beleza natural e ambiental, tem em parte do seu cervo histórico, um leque de monumentos e museus. O concelho oferece aos seus visitantes uma boa indústria hoteleira, com vários hotéis de qualidade, bares, discotecas e restaurantes de bom nível. A vila é sempre um bom local para dar passeios a pé, não só pela zona ribeirinha, como pelo seu traçado urbano característico.
Os monumentos, como o Castelo de Sesimbra, a Fortaleza de Santiago ou o Forte de S. Teodósio são outras das atracções do concelho sesimbrense. O Cabo Espichel é outro dos lugares privilegiados bem como a beleza natural do concelho, as praias, as festas tradicionais e a gastronomia. Estes são alguns dos pontos fortes para visitar Sesimbra. As suas praias são muito visitadas e apreciadas pelos turistas, assim como a pesca desportiva. No que diz respeito ao artesanato, destacam-se as composições em escamas de peixe, a cerâmica e a pintura em azulejo.
O concelho de Sesimbra é rico em associações de carácter solidário, desportivo e humanitário, algumas delas centenárias. O seu trabalho ao longo dos anos tem vindo a ser importante no desenvolvimento do concelho.
O leque de festas típicas do concelho de Sesimbra é muito vasto. A Feira Festa da Quinta do Conde ou Carnaval, os Santos Populares, assim como as Festas da Nossa Senhora da Luz e da Nossa Senhora da Boa Água são algumas das festas pontuais de Sesimbra. Incontornáveis são as celebrações do Culto do Senhor das Chagas, com início a 13 de Abril e auge nos dias 3 a 5 de Maio. Pelo meio tem lugar a procissão dedicada ao Santo que é das maiores realizadas a Sul do País.
Sesimbra não oferece só festas e feiras aos seus visitantes. Estes também podem apreciar a gastronomia sesimbrense, rica em peixe e marisco. De destacar a caldeirada de Sesimbra, o arroz de tamboril e açorda de marisco nos pratos principais, não esquecendo o pão caseiro e os queijos frescos. A doçaria é representada pelos zimbros, brisas do mar, almirantes e as tradicionais broas de alfarim. Justamente conhecido em Sesimbra é também o licor “O Pescador”, um vinho licoroso muito doce que se deve beber bem fresco.

Caracterização sócio – profissional e económica

Tradicionalmente conhecida pela importância da sua actividade piscatória, Sesimbra foi durante muito tempo um dos principais portos de pesca do país, entregando-se à agricultura como labor complementar. Rico em pesca o mar, foi desde sempre a principal actividade económica desta população. Essa riqueza proporcionou, a certa altura, um ensaio de actividade industrial – indústria local da conserva de peixe. A prática da recolha de algas e a pesca desportiva são outros exemplos na predominante influência que o mar exerce sobre a vila.
Do ponto de vista sócio profissional as classes populares de Sesimbra repartiam-se entre cinco grandes divisões económicas e profissionais: os trabalhos agrícolas, a caça e pesca, os transportes, a indústria e o comércio, que em conjunto constituíam mais de 90 por cento da economia do concelho. O que permitiu concluir que na vila o ramo sócio profissional predominante estava ligado à pesca e era constituído pelo grupo dos “marítimos” (pexitos), que incluía não só os pescadores propriamente ditos mas todos aqueles que estivessem ligados profissionalmente ao mar, enquanto que no campo se verificava a preponderância dos “trabalhadores” (camponeses). Esta classificação ajudou-nos a compreender e estabelecer a comparação entre o espaço urbano e o espaço rural.
Actualmente a economia municipal assenta na pesca, agro – pecuária, silvicultura, indústria alimentar, comércio retalhista, construção civil e turismo (restauração e hotelaria), destacando-se ainda o papel da administração local. A par da tradição pesqueira, Sesimbra cada vez mais se afirma pela sua forte vocação turística.
Sesimbra sempre foi e será uma vila piscatória, mas infelizmente já não é o que era. Há 30 anos as famílias sesimbrenses obtinham o seu sustento através de uma das profissões mais perigosas e mais bonitas do mundo.
A actividade piscatória tem vindo a sofrer em todo o país vários cortes e restrições, uns impostos por teimosia do Governo, outros por inoperância das autarquias, mas a maior parte pelos acordos de pescas que se têm verificado ao longo dos anos.
Em Sesimbra a situação começou a degradar-se com o acordo Luso-Espanhol que desfavorecia os pescadores sesimbrenses que tinham uma frota pesqueira mais reduzida que a espanhola, e também porque a costa portuguesa era mais rica em peixe. Posto isto começaram a surgir dificuldades aos pescadores que, devido ao peixe ter começado a rarear, começaram a ter de deslocar-se a mares mais distantes para poderem sobreviver.
Também a entrada na Comunidade Económica Europeia trouxe alguns prejuízos para a pesca em Sesimbra, nomeadamente a entrada em vigor de novas normas relativamente à pesca artesanal. A crise, que já era grande, acentuou-se e Sesimbra foi perdendo tradições a nível piscatório, não por vontade mas por imposição, apesar de ser considerado um dos Portos mais importantes do País.
Ao longo dos anos foram-se verificando cada vez mais restrições aos homens do mar, originando lutas e protestos, juntando lado a lado pescadores e autarquia.
Na década de 90, outro acordo era esperado com alguma ansiedade pelos pexitos, muitos já afastados da actividade por não conseguirem apetrechar os seus barcos com material e meios mais evoluídos. Esperava-se o tão aclamado acordo de pescas com Marrocos.
O peixe-espada passou a ser, então, a espécie mais procurada por pescadores de Sesimbra em águas marroquinas. Muitos dos pescadores investiram o que tinham e o que não tinham na reconstrução dos meios de pesca e ainda tiveram que acolher os marroquinos que procuravam melhores condições e, apesar de tudo, ainda as conseguiam encontrar em Sesimbra.
Dos 3 mil pescadores, ao longo de pouco mais de 10 anos, Sesimbra perdia centenas de homens. Sem contratos, sem seguros, sem condições de trabalho, com reformas baixas, considerando os problemas ambientais e lutando contra a subida de preço dos combustíveis e do próprio pescado, os pescadores sesimbrenses viam no acordo com Marrocos a sua luz ao fundo do túnel.
No entanto outras espécies, capturadas por outros pescadores com outras artes, começavam a ressentir-se da entrada dos espanhóis nas nossas águas. Os vizinhos, com melhores barcos, traziam mais peixe que vendiam mais barato.
Não se compreende como é possível, sequer pensar, que num período de dificuldades os pescadores deitassem para o lixo quilos de pescado. Mas, infelizmente, isso aconteceu inúmeras vezes devido à incapacidade de assimilar os preços portugueses aos espanhóis.
Dado o final do acordo, que atirou para o desemprego centenas de pescadores, a economia local começou a ressentir-se ainda mais. Nessa altura a autarquia uniu esforços com os pescadores, que teimavam em não desistir, para procurar junto da União Europeia soluções e medidas que pudessem de alguma forma ajudar os pescadores que iriam ser confrontados com mais um obstáculo que quase põe fim à actividade. Foi aprovado um pacote financeiro disponível para a reestruturação da frota pesqueira que, no entanto, não evitou o pior que estava para vir.
Muitos homens foram para a pré-reforma, outros deixaram a pesca, outros reconverteram embarcações e mudaram de arte de pesca. Os que subsistiram na actividade, que tantos anos fez de Sesimbra um porto de abrigo, enfrentaram mais recentemente um dos maiores obstáculos imposto pelo Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida. Com sérias e graves restrições, foram criadas zonas de protecção total, complementar e parcial.
Foram já várias as providências cautelares para contestar esta restrição. Os homens do mar e os autarcas concordam que se protejam as espécies mas consideram ter uma palavra a dizer quanto à forma com que isso acontece, que prejudica em muito os pescadores sesimbrenses. Este plano continua a ser refutado pela vila de Sesimbra que não pode esperar até 2009 pelo seu final, altura em que vai ser reavaliado. Em 2009, já não haverá pescadores em Sesimbra para reclamar aquilo a que têm direito: uma actividade livre de restrições e com condições condignas.
Actualmente Sesimbra tem perto de 900 pescadores que, a muito custo mantêm os barcos no mar mas que não querem deixar morrer a tradição que os mais novos desprezam.
Há 30 anos existiam em Sesimbra cerca de 3 mil pescadores. Factores como a idade afastaram muitos deles das nossas águas mas a maior parte não suportou financeiramente e materialmente as evoluções e imposições exigidas pelo Governo.
Apesar de ser um sector bastante prejudicado, a pesca continua a ser o orgulho dos sesimbrenses que esperavam, ainda assim, um pouco mais de insistência da autarquia junto do Governo e da União Europeia.

Demografia

Em termos demográficos o concelho de Sesimbra tem vindo a sofrer, ao longo dos séculos, mudanças circunstanciais. No final do século XIX e segundo o censo de 1890, Sesimbra tinha uma população total de 8.287 habitantes. Nas décadas seguintes, essa população aumentou e em 1900 sobe cerca de nove por cento para 9.047 habitantes. Esta percentagem quase duplica em 1911 com uma subida de 18 por cento, passando Sesimbra para os 10.672 habitantes, e em 1920 o crescimento voltou a fixar-se à volta dos oito por cento com 11.532 habitantes.
A população era maioritariamente masculina, mas a sua percentagem relativamente à população feminina rondava os 50 por cento e era de 54 por cento no censo de 1890 e de 52 por cento nos censos seguintes. Quanto à naturalidade da população de Sesimbra, os censos levam-nos a concluir que ela é maioritariamente do próprio concelho: assim 91 por cento dos habitantes entre 1890 e 1900, 90 por cento em 1911 e 87 por cento em 1920, nasceram no concelho. O analfabetismo da população sesimbrense rondava os números nacionais, segundo os quais a população nacional letrada em 1890 seria aproximadamente de 20,8 por cento. Em Sesimbra ela representava 23, 19, 22 e 24 por cento, respectivamente em 1890, 1900, 1911 e 1920. Onde a diferença se acentuava era na taxa de analfabetismo por sexo. As mulheres eram em regra as mais alfabetizadas. A oferta de trabalho, quer na vila, na pesca e serviços afins, quer no campo, na agricultura, é dirigida principalmente para o sexo masculino, o qual começa a trabalhar muito cedo, e fica por isso impedido de frequentar a escola.
Os Censos de 2001 revelaram importantes dinâmicas populacionais no concelho, tendo a população residente aumentado 38 por cento entre 1991 e 2001. Este aumento foi especialmente sentido na freguesia da Quinta do Conde, cuja população residente aumentou 108 por cento.
Na freguesia do Castelo ocorreu um acréscimo populacional de 27 por cento no mesmo período, enquanto que na freguesia de Santiago a população residente diminuiu em cerca de 21 por cento.

O número de alojamentos aumentou no concelho nos mesmos dez anos em 35,4 por cento. Este aumento repartiu-se da seguinte forma: na freguesia de Santiago aumentou 10,7 por cento, na do Castelo 19,5 por cento e na freguesia da Quinta do Conde foi onde se deu o maior aumento com 89,7 por cento.
Para além do crescimento da freguesia da Quinta do Conde, estes números revelam o acréscimo de alojamentos de férias na vila de Sesimbra, dado o aumento total de alojamentos conjugado com a diminuição da população residente. Enquanto o total de alojamentos aumentou 10,7 por cento, os alojamentos de residência habitual sofreram uma diminuição de 8,7 por cento.

Caracterização das freguesias

Freguesia do Castelo


A freguesia de Nossa Senhora do Castelo foi criada em 27 de Maio de 1388. É a maior do concelho em território, com 178,77 quilómetros quadrados, e a segunda em população, com 15.207 habitantes (dados dos censos de 2001). Ocupa mais de 90 por cento do território do Município de Sesimbra. Esta freguesia abrange o território rural desde o Cabo Espichel ao Arneiro, a Norte, e até à Quinta do Conde, a nascente. Mais a Sul, os seus limites vão até ao Fojo, na Serra da Arrábida. Santana, Zambujal, Caixas, Aiana, Alfarim, Aldeia do Meco, Azóia, Cotovia, Sampaio, Maçã e Pedreiras, são as aldeias principais desta freguesia. Nesta povoação encontra-se o conjunto medieval constituído pelo Castelo de Sesimbra e o Santuário de Nossa Senhora do Cabo.



Freguesia de Santiago


Criada em 8 de Abril de 1536, a freguesia de Santiago tem 1,99 quilómetros quadrados e 5.793 habitantes (dados dos censos de 2001) e compreende o espaço urbano da vila de Sesimbra. Teve origem quando a população saiu do perímetro do Castelo e fixou raízes na Póvoa Ribeirinha. Possui monumentos e edifícios de grande interesse como a Fortaleza de Santiago, a Igreja Matriz e a Capela do Espírito Santo dos Mareantes.


Freguesia da Quinta do Conde

A freguesia da Quinta do Conde tem 14,22 quilómetros quadrados e 16.389 habitantes (dados dos censos de 2001), dos quais 25 por cento com menos de 30 anos. Situada na zona Nordeste do concelho, precisamente no centro da Península de Setúbal, surgiu no início da década de 70, a partir do parcelamento clandestino de uma propriedade rústica e consequente venda de lotes onde os novos proprietários foram construindo moradias. Em 1985, foi elevada a freguesia e dez anos depois passou a vila. Além da sede, comporta os núcleos urbanos de Casal do Sapo, Fontainhas e Courelas da Brava. Segundo o XIV Recenseamento Geral da População, a Quinta do Conde foi a freguesia que registou, em termos relativos, o crescimento demográfico mais acelerado do país. A população passou de 7.958 residentes, em 1991, para os actuais 16.389.

Caracterização histórica e heráldica da vila

A vila de Sesimbra teve a sua origem na zona muralhada do Castelo. Consta que esta foi fundada pelos Galo-Celtas e Sarrios no ano 300 a.C., contudo o que se sabe ao certo é que caiu nas mãos dos Mouros quando da sua invasão e fixação na Península Ibérica. Sesimbra foi conquistada aos árabes em 1165, por D. Afonso Henriques, mas o seu Castelo foi novamente ocupado e mais tarde reconquistado por D. Sancho I em 1199, com a ajuda dos Francos. A estes, fica depois entregue a defesa e o povoamento da nova terra, a quem o Rei concede foral em 1201. Em 1236, Sesimbra é doada pela Coroa aos CavaLeiros da Ordem de Santiago, na pessoa do Grão-Mestre D. Paio Peres Correia, doação confirmada por bula papal de 1245, e que incluía todos os direitos sobre o senhorio da Vila e do Castelo. A elevação a vila e a criação do concelho é feita por D. Dinis em 1323.
A história de Sesimbra acompanha de perto a própria história do país. Estão documentadas as várias épocas pré-históricas desde o Paleolítico até à ocupação romana e árabe, nos testemunhos arqueológicos preciosos, encontrados um pouco por todo o concelho. São acontecimentos arqueológicos importantes as Lapas do Fumo, da Furada e do Bugio, o Castelo e a necrópole do Casalão. Para o período romano encontraram-se algumas cerâmicas na Lapa do Fumo, moedas no Castelo, sepulturas e outras cerâmicas no Vale da Palha e os cepos e fragmentos de ânforas do Mar de Ancão e da Baixa do Cabo Espichel. Para o período da dominação árabe e da conquista de Sesimbra, foi descoberto um número considerável de moedas, na Lapa do Fumo.
As origens do topónimo Sesimbra são desconhecidas e o problema tem originado diversas especulações. Enquanto uns dizem que o seu nome vem de Zambra, origem romana, outros afirmam ter sido Sesimbrigue, de origem celta, Zimbra Celtibera ou ainda Caspiana que a geografia ptotomaica situava na zona da Arrábida. Outros julgam ter derivado de Sisimbrion, vocábulo grego que designaria a colónia que viveu no lugar onde serviu a Ribeira, actual Vila. Sabendo-se como as palavras evoluem, e como é lenta e demorada a fixação da sua grafia, registe-se que em documentos dos séculos XI e XII já se encontram a forma Sisimbria e Sesimbria.
O concelho de Sesimbra foi constituído por dois brasões um no século XIV e outro no século XX e que se mantém até aos dias de hoje. O primeiro representando uma águia pousada no castelo e um cão a fugir, apenas foi reconhecido no século XVI e simbolizava a lenda e história da conquista do Castelo de Sesimbra aos Mouros pelo primeiro rei de Portugal. A águia representava o rei D. Afonso Henriques que, ao conquistar o castelo, local de pouso da águia, forçou os Mouros a fugir, simbolizados pelo cão ou lebreu do deserto a olhar para trás. Por sua vez no século XX, foi criado um novo brasão, aquele que é usado actualmente, e que é apresentado por quatro castelos identificadores do estatuto de concelho, com banda por debaixo com topónimo da sede de concelho. Este, enquadrado em fundo cerize, representa a cor da Ordem Militar de Santiago, com um Castelo que simboliza a primitiva povoação castelar. A memória muçulmana está retratada pelos crescentes sobre as torres laterais, e a posterior incorporação na Ordem Militar de Santiago representada pela cruz, no meio da torre maior do Castelo. Todo o conjunto tem como base as ondas verdes, que simbolizam os campos do concelho, e as ondas prateadas, que representam o mar.






Brasão do século XIV Brasão do século XX

O concelho de Sesimbra situa-se no Sudoeste da Península de Setúbal, possui uma área de 194,98 quilómetros quadrados e integra a Área Metropolitana de Lisboa. É limitado a Norte pelos municípios de Almada e Seixal, a Nordeste pelo Barreiro, a leste por Setúbal e a Sul Oeste pelo Oceano Atlântico. A sua linha de costa, com múltiplas paisagens, estende-se desde a Lagoa de Albufeira até à Serra da Arrábida e compreende três freguesias (Quinta do Conde, Sesimbra-Castelo e Sesimbra-Santiago).