domingo, 27 de abril de 2008

Caracterização sócio – profissional e económica

Tradicionalmente conhecida pela importância da sua actividade piscatória, Sesimbra foi durante muito tempo um dos principais portos de pesca do país, entregando-se à agricultura como labor complementar. Rico em pesca o mar, foi desde sempre a principal actividade económica desta população. Essa riqueza proporcionou, a certa altura, um ensaio de actividade industrial – indústria local da conserva de peixe. A prática da recolha de algas e a pesca desportiva são outros exemplos na predominante influência que o mar exerce sobre a vila.
Do ponto de vista sócio profissional as classes populares de Sesimbra repartiam-se entre cinco grandes divisões económicas e profissionais: os trabalhos agrícolas, a caça e pesca, os transportes, a indústria e o comércio, que em conjunto constituíam mais de 90 por cento da economia do concelho. O que permitiu concluir que na vila o ramo sócio profissional predominante estava ligado à pesca e era constituído pelo grupo dos “marítimos” (pexitos), que incluía não só os pescadores propriamente ditos mas todos aqueles que estivessem ligados profissionalmente ao mar, enquanto que no campo se verificava a preponderância dos “trabalhadores” (camponeses). Esta classificação ajudou-nos a compreender e estabelecer a comparação entre o espaço urbano e o espaço rural.
Actualmente a economia municipal assenta na pesca, agro – pecuária, silvicultura, indústria alimentar, comércio retalhista, construção civil e turismo (restauração e hotelaria), destacando-se ainda o papel da administração local. A par da tradição pesqueira, Sesimbra cada vez mais se afirma pela sua forte vocação turística.
Sesimbra sempre foi e será uma vila piscatória, mas infelizmente já não é o que era. Há 30 anos as famílias sesimbrenses obtinham o seu sustento através de uma das profissões mais perigosas e mais bonitas do mundo.
A actividade piscatória tem vindo a sofrer em todo o país vários cortes e restrições, uns impostos por teimosia do Governo, outros por inoperância das autarquias, mas a maior parte pelos acordos de pescas que se têm verificado ao longo dos anos.
Em Sesimbra a situação começou a degradar-se com o acordo Luso-Espanhol que desfavorecia os pescadores sesimbrenses que tinham uma frota pesqueira mais reduzida que a espanhola, e também porque a costa portuguesa era mais rica em peixe. Posto isto começaram a surgir dificuldades aos pescadores que, devido ao peixe ter começado a rarear, começaram a ter de deslocar-se a mares mais distantes para poderem sobreviver.
Também a entrada na Comunidade Económica Europeia trouxe alguns prejuízos para a pesca em Sesimbra, nomeadamente a entrada em vigor de novas normas relativamente à pesca artesanal. A crise, que já era grande, acentuou-se e Sesimbra foi perdendo tradições a nível piscatório, não por vontade mas por imposição, apesar de ser considerado um dos Portos mais importantes do País.
Ao longo dos anos foram-se verificando cada vez mais restrições aos homens do mar, originando lutas e protestos, juntando lado a lado pescadores e autarquia.
Na década de 90, outro acordo era esperado com alguma ansiedade pelos pexitos, muitos já afastados da actividade por não conseguirem apetrechar os seus barcos com material e meios mais evoluídos. Esperava-se o tão aclamado acordo de pescas com Marrocos.
O peixe-espada passou a ser, então, a espécie mais procurada por pescadores de Sesimbra em águas marroquinas. Muitos dos pescadores investiram o que tinham e o que não tinham na reconstrução dos meios de pesca e ainda tiveram que acolher os marroquinos que procuravam melhores condições e, apesar de tudo, ainda as conseguiam encontrar em Sesimbra.
Dos 3 mil pescadores, ao longo de pouco mais de 10 anos, Sesimbra perdia centenas de homens. Sem contratos, sem seguros, sem condições de trabalho, com reformas baixas, considerando os problemas ambientais e lutando contra a subida de preço dos combustíveis e do próprio pescado, os pescadores sesimbrenses viam no acordo com Marrocos a sua luz ao fundo do túnel.
No entanto outras espécies, capturadas por outros pescadores com outras artes, começavam a ressentir-se da entrada dos espanhóis nas nossas águas. Os vizinhos, com melhores barcos, traziam mais peixe que vendiam mais barato.
Não se compreende como é possível, sequer pensar, que num período de dificuldades os pescadores deitassem para o lixo quilos de pescado. Mas, infelizmente, isso aconteceu inúmeras vezes devido à incapacidade de assimilar os preços portugueses aos espanhóis.
Dado o final do acordo, que atirou para o desemprego centenas de pescadores, a economia local começou a ressentir-se ainda mais. Nessa altura a autarquia uniu esforços com os pescadores, que teimavam em não desistir, para procurar junto da União Europeia soluções e medidas que pudessem de alguma forma ajudar os pescadores que iriam ser confrontados com mais um obstáculo que quase põe fim à actividade. Foi aprovado um pacote financeiro disponível para a reestruturação da frota pesqueira que, no entanto, não evitou o pior que estava para vir.
Muitos homens foram para a pré-reforma, outros deixaram a pesca, outros reconverteram embarcações e mudaram de arte de pesca. Os que subsistiram na actividade, que tantos anos fez de Sesimbra um porto de abrigo, enfrentaram mais recentemente um dos maiores obstáculos imposto pelo Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida. Com sérias e graves restrições, foram criadas zonas de protecção total, complementar e parcial.
Foram já várias as providências cautelares para contestar esta restrição. Os homens do mar e os autarcas concordam que se protejam as espécies mas consideram ter uma palavra a dizer quanto à forma com que isso acontece, que prejudica em muito os pescadores sesimbrenses. Este plano continua a ser refutado pela vila de Sesimbra que não pode esperar até 2009 pelo seu final, altura em que vai ser reavaliado. Em 2009, já não haverá pescadores em Sesimbra para reclamar aquilo a que têm direito: uma actividade livre de restrições e com condições condignas.
Actualmente Sesimbra tem perto de 900 pescadores que, a muito custo mantêm os barcos no mar mas que não querem deixar morrer a tradição que os mais novos desprezam.
Há 30 anos existiam em Sesimbra cerca de 3 mil pescadores. Factores como a idade afastaram muitos deles das nossas águas mas a maior parte não suportou financeiramente e materialmente as evoluções e imposições exigidas pelo Governo.
Apesar de ser um sector bastante prejudicado, a pesca continua a ser o orgulho dos sesimbrenses que esperavam, ainda assim, um pouco mais de insistência da autarquia junto do Governo e da União Europeia.

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